quinta-feira, 14 de outubro de 2010

AINDA HÁ MOTIVOS PARA COMEMORAR A REFORMA?

Alderi Souza de Matos


Por várias razões, é bastante reduzido, em termos proporcionais, o número de protestantes que valorizam e celebram a Reforma do século 16. Os pentecostais e neopentecostais, tendo surgido tardiamente e rompido com as Igrejas Históricas em diversos aspectos importantes, sentem pouca ou nenhuma afinidade com a obra dos reformadores. Muitos batistas, quer por se considerarem diferentes das demais igrejas evangélicas, quer por verem as raízes do seu movimento em épocas anteriores ao século 16, também não se identificam com a Reforma Protestante. Os metodistas mantiveram certos aspectos da herança protestante original, mas também produziram alterações significativas na mesma, como argumenta corretamente o historiador Mark Noll em sua obra Momentos Decisivos na História do Cristianismo (Cultura Cristã, 2000).


Restam os quatro grupos iniciais da Reforma do século 16: luteranos, calvinistas, anabatistas e anglicanos. Os anabatistas, representados mormente pelos menonitas, pretenderam ser os “Reformadores da Reforma”, visto entenderem que os primeiros líderes não foram longe o bastante na sua ruptura com o catolicismo medieval. A comunidade anglicana, em virtude do seu caráter misto protestante-católico, também hesita em assumir entusiasticamente os seus laços com a Reforma. Desse modo, são especialmente os luteranos e os calvinistas que continuam a celebrar com maior ênfase o evento de 31 de outubro de 1517 e suas vastas conseqüências. Aliás, historicamente os presbiterianos têm uma razão adicional para comemorar a Reforma, uma vez que os protestantes suíços ligados a Zuínglio e Calvino receberam desde o início a designação específica de “reformados”.


Infelizmente, nestes tempos pós-modernos, muitos presbiterianos têm nutrido dúvidas e ambigüidades quanto à identidade reformada. Há alguns anos, surgiu entre nós o slogan historicamente insustentável e teologicamente contraditório Fides reformata et semper reformanda est, ou seja, “a fé é reformada e está sempre se reformando”. Os reformadores jamais concordariam com isso. A Igreja é que é passível de reforma (“Ecclesia reformata sed semper reformanda”), mas não a fé, as convicções básicas cristãs e reformadas, as verdades inegociáveis de “sola Scriptura”, “sola gratia”, “solo Christo”, “sola fides” e muitas outras, com suas profundas implicações. Comemorar a Reforma não é uma questão de saudosismo ou apego à tradição, mas significa reafirmar os fundamentos bíblicos redescobertos e confessados pelos reformadores, sem os quais ficaremos à deriva no mar de incertezas que caracteriza a presente era.
Fonte: www. mackinzie

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